Da Redação
A Polícia Civil de Mato Grosso deflagrou, na manhã desta quinta-feira (17.7), a Operação Verdades Secretas, visando desarticular uma extensa rede criminosa responsável por abusos sexuais contra crianças e adolescentes. A investigação, conduzida pela Delegacia do município de Canarana, expôs um médico local com vínculos políticos como o principal articulador do esquema. Ao todo, 16 mandados judiciais, entre busca e apreensão e quebra de sigilo telemático, foram cumpridos simultaneamente em diversas cidades mato-grossenses e também no Recife, em Pernambuco.
O inquérito policial foi iniciado após denúncias apontarem que o médico investigado utilizava sua influência social e profissional para se aproximar de mães solteiras ou mulheres que possuíam acesso direto a crianças. Sob pretexto de assistência médica ou apoio financeiro, o suspeito estabelecia relações próximas, o que lhe permitia abusar dos menores em circunstâncias de confiança, muitas vezes sem levantar suspeitas imediatas.

Durante a operação, oito pessoas foram alvo direto das ações policiais. Destas, sete eram mulheres próximas ao investigado, que mantinham relacionamentos afetivos e desconheciam as relações paralelas mantidas por ele com as demais envolvidas. Além delas, um homem também é suspeito de participação direta na produção e compartilhamento de materiais pornográficos envolvendo as vítimas, demonstrando uma complexa e bem estruturada rede criminosa.

A profundidade do esquema revelou ainda situações extremamente graves, incluindo o caso específico de uma mulher que teria realizado um aborto induzido sob orientação do médico investigado. Embora a criança abortada não fosse filha do suspeito, o fato amplia a percepção sobre a influência exercida pelo acusado, agravando ainda mais a dimensão psicológica e social dos crimes praticados.
A busca realizada pela Polícia Civil resultou na apreensão de diversos dispositivos eletrônicos, tais como celulares e computadores, que passarão por perícia técnica detalhada. Os investigadores esperam que a análise dos aparelhos apreendidos leve à identificação de novas vítimas e de outros possíveis criminosos ainda não detectados.

Atualmente, o médico investigado encontra-se preso preventivamente em decorrência de quatro mandados judiciais, frutos de inquéritos anteriores já concluídos, nos quais foi formalmente indiciado por diversos crimes sexuais contra menores. A prisão preventiva visa impedir novas infrações e proteger outras possíveis vítimas enquanto o processo judicial é conduzido.
Dados recentes divulgados pelo Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos apontam que, apenas em 2023, o Brasil registrou um aumento alarmante de 45% nas denúncias de abuso sexual infantil recebidas pelo Disque 100, comparado ao mesmo período do ano anterior. Em Mato Grosso, especificamente, houve um crescimento superior a 30% no mesmo período, reforçando a relevância e a urgência das ações policiais e judiciárias em casos dessa natureza.
